Vera Lyn Poeta

A arte é Divina, é a salvação. A arte nos poe mais perto de Deus. v.l.p

segunda-feira, abril 23, 2018

Não me santifiquem após a morte, por deus
Prezo os meus defeitos mais que minhas virtudes
Pois foram estes tropeços que me levaram aos acertos.
As dúvidas ferrenhas que me trouxeram fés.
Digam que fui um louco, embora são
Que cometi abusos, embora belos
Que fui vadio e poeta, tal um sonhador
Santos são para capelas 
Eu pouco estive nelas.
Os orixás africanos são cheios de defeitos
Iansã tem peitos nus a provocar exus
Os deuses gregos estão prenhes de paixões
Vênus atiça marte em suas explosões.
Gosto dessa mistura entre o fogo e o mar.
O mal e o bem em duelo,
Que nos faz humanos...
E que parece ser o que nos diviniza.
Digam que eu era isso, 
uma mistura de coisas,
um abismo de rosas.
Uma reticências....
Não me tornem outra pessoa, após a morte,
Pois vivo.
Em tudo aquilo que um dia, lembrarem de mim.

Anjos urbanos
@Direitos reservados

domingo, abril 22, 2018

Quatro e meia da manhã

quatro e meia da manhã
os barulhos do mundo
com passarinhos vermelhos,
são quatro e meia da
manhã,
são sempre
quatro e meia da manhã,
e eu escuto
meus amigos:
os lixeiros
e os ladrões
e gatos sonhando com
minhocas,
e minhocas sonhando
os ossos
do meu amor,
e eu não posso dormir
e logo vai amanhecer,
os trabalhadores vão se levantar
e eles vão procurar por mim
no estaleiro
e dirão:
"ele tá bêbado de novo",
mas eu estarei adormecido,
finalmente, no meio das garrafas e
da luz do sol,
toda a escuridão acabada,
os braços abertos como
uma cruz,
os passarinhos vermelhos
voando,
voando,
rosas se abrindo no fumo
e
como algo esfaqueado e
cicatrizando,
como 40 páginas de um romance ruim,
um sorriso bem na
minha cara de idiota.
Charles Bukowski, in "Os 25 Melhores Poemas de Charles Bukowski"
Tradução de Jorge Wanderley

quinta-feira, abril 19, 2018

Lua Adversa


Tenho fases, como a lua. 
Fases de andar escondida, 
fases de vir para a rua... 
Perdição da minha vida! 
Perdição da vida minha! 
Tenho fases de ser tua, 
tenho outras de ser sozinha. 

Fases que vão e vêm, 
no secreto calendário 
que um astrólogo arbitrário 
inventou para meu uso. 

E roda a melancolia 
seu interminável fuso! 

Não me encontro com ninguém 
(tenho fases como a lua...) 
No dia de alguém ser meu 
não é dia de eu ser sua... 
E, quando chega esse dia, 
o outro desapareceu...

Cecília Meireles 

Retrato


Eu não tinha este rosto de hoje, 
assim calmo, assim triste, assim magro, 
nem estes olhos tão vazios, 
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força, 
tão paradas e frias e mortas; 
eu não tinha este coração 
que nem se mostra. 

Eu não dei por esta mudança, 
tão simples, tão certa, tão fácil: 
- Em que espelho ficou perdida 
a minha face?
Cecília Meireles