Vera Lyn Poeta

A arte é Divina, é a salvação. A arte nos poe mais perto de Deus. v.l.p

sexta-feira, abril 27, 2018

Já não se encantarão os meus olhos nos teus olhos, 
já não se adoçará junto a ti a minha dor.

Mas para onde vá levarei o teu olhar 
e para onde caminhes levarás a minha dor.

Fui teu, foste minha. O que mais? Juntos fizemos 
uma curva na rota por onde o amor passou.

Fui teu, foste minha. Tu serás daquele que te ame, 
daquele que corte na tua chácara o que semeei eu.

Vou-me embora. Estou triste: mas sempre estou triste. 
Venho dos teus braços. Não sei para onde vou.

...Do teu coração me diz adeus uma criança. 
E eu lhe digo adeus.

__ Pablo Neruda

quinta-feira, abril 26, 2018

A Dança

Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
amo-te como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma. 

Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta a luz daquelas flores, 
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascendeu da terra.

Te amo sem saber como, nem quando, nem onde, 
te amo diretamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira, 

senão assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.


__ Pablo Neruda
Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.

Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperança a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!

Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solene pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.


 ____ Fernando Pessoa

quarta-feira, abril 25, 2018

Sou composta por urgências: 
minhas alegrias são intensas; 
minhas tristezas, absolutas. 
Entupo-me de ausências,
Esvazio-me de excessos. 
Eu não caibo no estreito, 
eu só vivo nos extremos.

Pouco não me serve, 
médio não me satisfaz,
metades nunca foram meu forte! 

Todos os grandes e pequenos momentos,
feitos com amor e com carinho,
são pra mim recordações eternas.
Palavras até me conquistam temporariamente...
Mas atitudes me perdem ou me ganham para sempre.

Suponho que me entender 
não é uma questão de inteligência 
e sim de sentir, 
de entrar em contato...
Ou toca, ou não toca.
______________Clarice Lispector
  

segunda-feira, abril 23, 2018

Não me santifiquem após a morte, por deus
Prezo os meus defeitos mais que minhas virtudes
Pois foram estes tropeços que me levaram aos acertos.
As dúvidas ferrenhas que me trouxeram fés.
Digam que fui um louco, embora são
Que cometi abusos, embora belos
Que fui vadio e poeta, tal um sonhador
Santos são para capelas 
Eu pouco estive nelas.
Os orixás africanos são cheios de defeitos
Iansã tem peitos nus a provocar exus
Os deuses gregos estão prenhes de paixões
Vênus atiça marte em suas explosões.
Gosto dessa mistura entre o fogo e o mar.
O mal e o bem em duelo,
Que nos faz humanos...
E que parece ser o que nos diviniza.
Digam que eu era isso, 
uma mistura de coisas,
um abismo de rosas.
Uma reticências....
Não me tornem outra pessoa, após a morte,
Pois vivo.
Em tudo aquilo que um dia, lembrarem de mim.

Anjos urbanos
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