Vera Lyn Poeta

A arte é Divina, é a salvação. A arte nos poe mais perto de Deus. v.l.p

sábado, abril 22, 2017

Vitória Nossa


O que temos feito de nós e a isso cosidero vitória

 nossa de ca
O que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia?
Não temos amado, acima de todas as coisas.
Não temos aceito o que não se entende porque não queremos ser tolos.
Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos, nem aos outros.
Não temos nenhuma alegria que tenha sido catalogada.
Temos construído catedrais e ficado do lado de fora, pois as catedrais que nós mesmos construímos tememos que sejam armadilhas.
Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e talvez sem consolo.
Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro que por amor diga: teu medo.
Temos organizado associações de pavor sorridente, onde se serve a bebida com soda.
Temos procurado salvar-nos, mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes.
Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer sua contextura de amor e de ódio.
Temos mantido em segredo a nossa morte.
Temos feito arte por não sabermos como é a outra coisa.
Temos disfarçado com amor nossa indiferença, disfarçado nossa indiferença com a angústia, disfarçando com o pequeno medo o grande medo maior.
Não temos adorado, por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses.
Não temos sido ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer “pelo menos não fui tolo”, e assim não chorarmos antes de apagar a luz.
Temos tido a certeza de que eu também e vocês todos também, e por isso todos sem saber se amam.
Temos sorrido em público do que não sorrimos quando ficamos sozinhos.
Temos chamado de fraqueza a nossa candura.
Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo.


_Autoria: Clarice Lispector

A Alegria Mansa - Trecho - Clarice Lispector

Pois a hora escura, talvez a mais escura, em pleno dia, precedeu essa coisa que não quero sequer tentar definir. Em pleno dia era noite, e essa coisa que não quero ainda tentar definir é uma luz tranquila dentro de mim, e a ela chamariam de alegria, alegria mansa. Estou um pouco desnorteada como se um coração me tivesse sido tirado, e em lugar dele estivesse agora a súbita ausência, uma ausência quase palpável do que era antes um órgão banhado da escuridão diurna da dor. Não estou sentindo nada. Mas é o contrário de um torpor. É um modo mais leve e mais silencioso de existir.
Mas estou também inquieta. Eu estava organizada para me consolar da angústia e da dor. Mas como é que me consolo dessa simples e tranquila alegria? É que não estou habituada a não precisar de consolo. A palavra consolo aconteceu sem eu sentir, e eu não notei, e quando fui procurá-la, ela já se havia transformado em carne e espírito, já não existia mais como pensamento.
Vou então à janela, está chovendo muito. Por hábito estou procurando na chuva o que em outro momento me serviria de consolo. Mas não tenho dor a consolar.
Ah, eu sei. Estou agora procurando na chuva uma alegria tão grande que se torne aguda, e que me ponha em contato com uma agudez que se pareça com a agudez da dor. Mas é inútil a procura. Estou à janela e só acontece isso: vejo com os olhos benéficos a chuva, e a chuva me vê de acordo comigo. Estamos ocupadas ambas em fluir. Quanto durará esse meu estado? Percebo que, com esta pergunta, estou apalpando meu pulso para sentir onde estará o latejar dolorido de antes. E vejo que não há o latejar da dor. Apenas isso: chove e estou vendo a chuva. Que simplicidade. Nunca pensei que o mundo e eu chegássemos a esse ponto de trigo. A chuva cai não porque está precisando de mim, e eu olho a chuva não porque preciso dela. Mas nós estamos tão juntas como a água da chuva está ligada à chuva. E não estou agradecendo nada. Não tivesse eu, logo depois de nascer, tomado involuntária e forçadamente o caminho que tomei - e teria sido sempre o que realmente estou sendo: uma camponesa que está num campo onde chove. Nem sequer agradecendo a Deus ou à natureza. A chuva também não agradece nada. Não sou uma coisa que agradece ter se transformado em outra. Sou uma mulher, sou uma pessoa, sou uma atenção, sou um corpo olhando pela janela. Assim como a chuva não é grata por não ser uma pedra. Ela é uma chuva.Talvez seja isso que se poderia chamar de estar vivo. Não mais que isto, mas isto: vivo. E apenas vivo é uma alegria mansa."

___   Clarice Lispector

segunda-feira, abril 17, 2017

Clarice Lispector - em Felicidade Clandestina



Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue; outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho... o de mais nada fazer.

(Clarice Lispector)

Meu anjo Zé



_Meu Zé Poeta ainda vagueia pela nossa casa, pelo quintal em meio as plantas em que ele adorava fazer um xixi.
_Meu Zé Poeta, arde no meu peito. Embarga minha garganta, e faz cair lágrimas dos meus olhos.
_Mas eu posso ouvir o barulho de suas patinhas...O seu latido forte no portão. E posso te-lo em meus braços a acaricia-lo, porque o amor é mais forte que morte. R.I.P. meu grande e intenso companheiro de todas as horas e muitos e muitos anos. Paz e Amor. Temos muito o que viver ainda.....além vida.


Sua mãe,

domingo, abril 16, 2017

Judas Iscariotes - O mundo está lotado deles!

Existem pessoas, cujo coração é um bem da melhor espécie. Mas, infelizmente, de repente essas pessoas mudam com você. Elas explodem ao limite de te crucificar sem dó nem piedade. Logo você que foi melhor em tudo para elas. Somente porque você se viu na necessidade de dizer-lhes 'não', elas iniciam a manipulação em situações criadas por si, justo para amedrontar-nos, fazer-nos teme-las. São cínicas ao extremo.

Esses tipo de pessoas, de alguma forma nos tem como refém. Porque algum dia elas usaram de suas máscaras a nos persuadir, e conseguiram. Corações tomados pelo amor não vê a maldade. Quando vê, a casa já caiu.

Infelizmente existem pessoas assim, ausentes, porém insistentes. Devagar e sempre, estarão preparadas para nos cravar seus ferrões.
Toda essa reflexão, me trouxe a memória, a fábula do sapo e o escorpião, assim narrada:

"Um escorpião aproximou-se de um sapo que estava na beira de um rio e lhe fez um pedido:
- Amigo sapo, você poderia me carregar até a outra margem deste rio tão largo?
O sapo respondeu: - Só se eu fosse louco! Você vai me picar e eu vou ficar paralisado e afundar.
Disse o escorpião: - Isso é ridículo! Se eu o picasse, ambos afundaríamos e nos afogaríamos.
Confiando na lógica do que disse o escorpião, o sapo concordou e levou o escorpião nas costas, nadando para atravessar o rio.

Quando chegaram no meio do rio, o escorpião cravou seu ferrão no sapo.

Atingido pelo veneno, e já começando a afundar, o sapo voltou-se para o escorpião e perguntou: - Por que você fez isto? Agora nós dois vamos morrer!
E o escorpião respondeu: "Por que sou um escorpião e esta é a minha natureza."

Enfim,  estas pessoas que fazem com que muitos desacreditem da gentileza, da amizade verdadeira, do amor... contaminam aos que estão à sua volta.
Hoje, por ser a ressurreição de Jesus, que retornou à vida no domingo seguinte à sexta-feira na qual ele foi crucificado por ter sido traído por Judas (um de seus doze apóstolos), eu quis escrever esse texto.  Que o verdadeiro amor seja a liberdade, e o único caminho humanizado em fidelidade, lealdade, para que cada um possa ser livre às suas escolhas. Muitas vezes não podemos ficar.