Você não tem que andar ajoelhado por mil milhas pelo deserto, arrependido. Você só tem que deixar o suave animal do seu corpo amar o que ele ama.
Fale-me sobre desespero - o seu - e eu lhe falarei do meu.
Mas enquanto isso o mundo segue em frente. Enquanto o sol e as suaves pétalas da chuva se movem através das paisagens sobre as pradarias e árvores profundas, montanhas, e rios
Enquanto o ganso selvagem no alto limpo ar azul Está indo em direção a seu lar, de novo
Onde quer que você esteja, não importa quão solitário, O mundo se oferece a sua imaginação chamando por você como o ganso selvagem, estridente e excitante de novo e de novo - anunciando seu lugar na família das coisas.
Eu te peço perdão por te amar de repente Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos Das horas que passei à sombra dos teus gestos Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos Das noites que vivi acalentado Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente. E posso te dizer que o grande afeto que te deixo Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas Nem as misteriosas palavras dos véus da alma... É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias E só te pede que te repouses quieta, muito quieta E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar [ extático da aurora. __ Vinicius de Moraes__
Ela despediu-se do seu amor Ele partiu em um barco no cais de San Blas Ele jurou que voltaria E encharcada em choro ela jurou que esperaria Milhares de luas passaram E sempre ela estava no cais esperando Muitas tardes se enrolaram Se enrolaram no seu cabelo e nos seus lábios
Usava o mesmo vestido E para que se ele voltasse, não se enganasse Os caranguejos a mordiam Suas roupas, sua tristeza e sua ilusão E o tempo se passou E seus olhos se encheram de amanheceres E pelo mar se apaixonou E seu corpo se enraizou No cais
Sozinha, sozinha no esquecimento Sozinha, sozinha com seu espírito Sozinha, sozinha com seu amor no mar Sozinha no cais de San Blas
Seu cabelo se branqueou Mas nenhum barco devolvia o seu amor E no povoado lhe chamavam Lhe chamavam a louca do cais de San Blas E uma tarde de abril Tentaram levá-la ao sanatório Ninguém conseguiu arrancá-la E do mar nunca, jamais a separaram
Sozinha, sozinha no esquecimento Sozinha, sozinha com seu espírito Sozinha, sozinha com seu amor no mar Sozinha no cais de San Blas
Sozinha, sozinha no esquecimento Sozinha, sozinha com seu espírito Sozinha, sozinha com seu amor o mar
Sozinha, sozinha no esquecimento Sozinha, sozinha com seu espírito Sozinha, sozinha com seu amor no mar Sozinha no cais de San Blas
Ficou, ficou Sozinha, sozinha Ficou, ficou Com o sol e com o mar
Ficou nesse lugar Ficou até o fim Ficou nesse lugar Ficou, no cais de San Blas Sozinha, sozinha, ficou
Jamais me verás de onde vejo você. Inversamente, o que enxergo é o que que precisava ver. É tudo aquilo que escondera de mim, naquela dramática representação de pessoa frágil e solitária. Eu estava de saída quando me rendi ao seu olhar traiçoeiro. Vi piedade e abandono. Caráter abalado, o seu.
Falou no compasso e docemente aos meus ouvidos. Em sussurros arrastou-me para você. Fazia festa quando me via. Me prendia a exaustão. Todos os meus dias tornaram-se seus, unicamente. E eu te ouvia incansável. Assim, roubou meus dias e logo, a minha vida passou a ser sua. Justo quando eu estava de saída para descansar a alma, longe da multidão. Tantas vezes me fui. Todas as vezes me chamastes de volta.
Seus lábios nos meus, vermelhos e quentes. Beijos longos e estremeceres. Assim, vi minha realidade mórbida e adoecida renascer dentro da sua vida, de oceano e liberdade (tudo falso). Me traístes em seguida. Riu da minha angústia. Usou do sarcasmo com a minha dor. Riu ao me contar que seu corpo fora de outra pessoa. "Aconteceu" - me disse, sem pudor nenhum.
Certa vez me dissera que tinha um lado negro e demoníaco, mas que jamais usaria contra mim: Creio em Deus Pai Todo Poderoso! Roubastes de mim, toda confiança que trabalhei mais de uma década para reconstruir.
Pensei em morrer e terminar com tudo isso. Mas o sangramento segue estancando. Feridas cicatrizando. Restando apenas o horror incontrolável.
Eu te amei. Adormecia sorrindo depois da nossa alegria. Eu te amei ao amor que tu me dizias ter. Mentira outra vez.
Jamais me verás de onde te vejo tão desnudo, claro e evidente mau caráter. Jamais saberás de onde enxerguei profundamente quem tu és, o que é você. Minha alma saiu da tristeza e não chora por você. Ela reza.