Vera Lyn Poeta

A arte é Divina, é a salvação. A arte nos poe mais perto de Deus. v.l.p

domingo, setembro 16, 2018

Você não tem que ser bom


Você não tem que andar ajoelhado por mil milhas 
pelo deserto, arrependido. 
Você só tem que deixar o suave animal do seu corpo 
amar o que ele ama. 


Fale-me sobre desespero - o seu - e eu lhe falarei do meu. 

Mas enquanto isso o mundo segue em frente. 
Enquanto o sol e as suaves pétalas da chuva se movem 
através das paisagens 
sobre as pradarias e árvores profundas, montanhas, e rios 


Enquanto o ganso selvagem no alto limpo ar azul 
Está indo em direção a seu lar, de novo 


Onde quer que você esteja, não importa quão solitário, 
O mundo se oferece a sua imaginação
chamando por você como o ganso selvagem, estridente e excitante 
de novo e de novo - 
anunciando seu lugar na família das coisas.


"O ganso selvagem"  - Mary Oliver
Vera Lyn Poeta

sexta-feira, setembro 14, 2018

Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar
[ extático da aurora.


__ Vinicius de Moraes__

quinta-feira, setembro 13, 2018

Maná - No cais de San Blas💔💔

Ela despediu-se do seu amor
Ele partiu em um barco no cais de San Blas
Ele jurou que voltaria
E encharcada em choro ela jurou que esperaria
Milhares de luas passaram
E sempre ela estava no cais esperando
Muitas tardes se enrolaram
Se enrolaram no seu cabelo e nos seus lábios
Usava o mesmo vestido
E para que se ele voltasse, não se enganasse
Os caranguejos a mordiam
Suas roupas, sua tristeza e sua ilusão
E o tempo se passou
E seus olhos se encheram de amanheceres
E pelo mar se apaixonou
E seu corpo se enraizou
No cais
Sozinha, sozinha no esquecimento
Sozinha, sozinha com seu espírito
Sozinha, sozinha com seu amor no mar
Sozinha no cais de San Blas
Seu cabelo se branqueou
Mas nenhum barco devolvia o seu amor
E no povoado lhe chamavam
Lhe chamavam a louca do cais de San Blas
E uma tarde de abril
Tentaram levá-la ao sanatório
Ninguém conseguiu arrancá-la
E do mar nunca, jamais a separaram
Sozinha, sozinha no esquecimento
Sozinha, sozinha com seu espírito
Sozinha, sozinha com seu amor no mar
Sozinha no cais de San Blas
Sozinha, sozinha no esquecimento
Sozinha, sozinha com seu espírito
Sozinha, sozinha com seu amor o mar
Sozinha, sozinha no esquecimento
Sozinha, sozinha com seu espírito
Sozinha, sozinha com seu amor no mar
Sozinha no cais de San Blas
Ficou, ficou
Sozinha, sozinha
Ficou, ficou
Com o sol e com o mar
Ficou nesse lugar
Ficou até o fim
Ficou nesse lugar
Ficou, no cais de San Blas
Sozinha, sozinha, ficou

Afinal 💀💨💨


quinta-feira, setembro 06, 2018

Jamais me verás de onde vejo você

Jamais me verás de onde vejo você.  Inversamente, o que enxergo é o que que precisava ver. É tudo aquilo que escondera de mim, naquela dramática representação de pessoa frágil e solitária. Eu estava de saída quando me rendi ao seu olhar traiçoeiro. Vi piedade e abandono. Caráter abalado, o seu.

Falou no compasso e docemente aos meus ouvidos. Em sussurros arrastou-me para você. Fazia festa quando me via. Me prendia a exaustão. Todos os meus dias tornaram-se seus, unicamente. E eu te ouvia incansável. Assim, roubou meus dias e logo, a minha vida passou a ser sua. Justo quando eu estava de saída para descansar a alma, longe da multidão. Tantas vezes me fui. Todas as vezes me chamastes de volta.

Seus lábios nos meus, vermelhos e quentes. Beijos longos e estremeceres. Assim, vi minha realidade mórbida e adoecida renascer dentro da sua vida, de oceano e liberdade (tudo falso). Me traístes em seguida. Riu da minha angústia. Usou do sarcasmo com a minha dor. Riu ao me contar que seu corpo fora de outra pessoa. "Aconteceu" - me disse, sem pudor nenhum. 
Certa vez me dissera que tinha um lado negro e demoníaco, mas que jamais usaria contra mim: Creio em Deus Pai Todo Poderoso! Roubastes de mim, toda confiança que trabalhei mais de uma década para reconstruir.
Pensei em morrer e terminar com tudo isso. Mas o sangramento segue estancando. Feridas cicatrizando. Restando apenas o horror incontrolável. 
Eu te amei. Adormecia sorrindo depois da nossa alegria. Eu te amei ao amor que tu me dizias ter. Mentira outra vez.

Jamais me verás de onde te vejo tão desnudo, claro e evidente mau caráter. Jamais saberás de onde enxerguei profundamente quem tu és, o que é você. Minha alma saiu da tristeza e não chora por você. Ela reza.
____ Vera Lyn Poeta