Vera Lyn Poeta

A arte é Divina, é a salvação. A arte nos poe mais perto de Deus. v.l.p

sábado, junho 03, 2017

Poesia na alma



Eu tinha aparência de criança. Olhos ávidos de criança. Berros ensurdecedores de criança. Hiperatividade infantil, isso sim, me era sina. Porém, não me via como criança. Lúcida, me lembro, a poesia me implorando por dentro.

Levava propostas criativas aos meu amiguinhos. Colocávamos em prática, sempre. Éramos crianças, e estávamos vivendo a inocência da infância. Realizando sonhos pueril. Em meio aquelas ruas sujas de terra batida, abaixo do sol fervente. Éramos crianças criativas. Parece que nada dói para sempre quando somos crianças. Mas eu não me via como criança. Naquela década eu já me sentia um ser velho e cansado de viver.
Seria eu, apenas um corpo presente e mentora de brilhantes ideias infantes?!

Sempre estive com minha mente lá....Bem longe daquelas tolices. Eu sonhava em tempo integral. Eu via e vivia coisas estonteantes dentro da minha mente. Pelo meu corpo. Através meu espírito. Por minha alma toda.

Então, eu precisava brincar com aquelas crianças, distraí-las para que eu pudesse gozar de certo silêncio poético, sem ser descoberta pelos 'adultos'.

Enquanto minhas mãos moviam-se entre aquela parafernália de brinquedos mudos, mutilados e sem nenhum sinal de vida. Escorriam palavras de amor e adeus pelo vermelho sangue de minhas veias. 
Eu deveria escrever um poema de adeus, tão dolorido como um punhal fincado no peito. Algo relativo a uma tragédia de amor, 
onde a outra pessoa mente, 
te engana 
e te trai.

Varias vezes, saía correndo atrás do papel e caneta. A procura de um canto onde se predominava a paz da solidão. Sei bem que todos os lugares que estive, eu nunca estive. Também nunca fui criança dentro de mim.

Mas me lembro bem, que nessas horas de espanto, nostalgia e angustia por escrever, eu podia ouvir ao longe, vozes cantando blues.
A voz era da Etta James. Ah, eu nem sabia nada da Etta...Mas podia vê-la cantando aqui, pelo lado de dentro.

O vento....Eu corria contra o tempo, e já havia  vivido 250 anos. Importante, seria registrar todo aquele sentimento que estava me fazendo pulsar....pulsar...estremecer profundo.
Não gosto de barulheira. Não gosto de falação. Não gosto de aglomeração de gente.

Vera Lyn Poeta