Vera Lyn Poeta

A arte é Divina, é a salvação. A arte nos poe mais perto de Deus. v.l.p

terça-feira, novembro 06, 2018

"...e do silêncio da rosa ..."

"No meio do meu silêncio e do silêncio da rosa, havia o meu desejo de possuí-la como uma coisa só minha. Eu queria poder pegar nela. Queria cheirá-la até sentir a vista escura de tanta tonteira de perfume. (...) Até chegar à rosa foi um século de coração batendo. (...) O que é que eu fazia com a rosa? Fazia isso: ela era minha."

____ Clarice Lispector / Felicidade Clandestina

segunda-feira, outubro 29, 2018

O Eu Profundo - oração -

Senhor, que és o céu e a terra, que és a vida e a morte!
O sol és tu e a lua és tu e o vento és tu!
Tu és os nossos corpos e as nossas almas e o nosso amor és tu também.
Onde nada está tu habitas e onde tudo está - (o teu templo) - eis o teu corpo.

Dá-me alma para te servir e alma para te amar. Dá-me vista para te ver sempre no céu e na terra, ouvidos para te ouvir no vento e no mar, e mãos para trabalhar em teu nome.
Torna-me puro como a água e alto como o céu. Que não haja lama nas estradas dos meus pensamentos nem folhas mortas nas lagoas dos meus propósitos. Faze com que eu saiba amar os outros como irmãos e servir-te como a um pai.
       [...]
Minha vida seja digna da tua presença. Meu corpo seja digno da terra, tua cama. Minha alma possa aparecer diante de ti como um filho que volta ao lar.
Torna-me grande como o Sol, para que eu te possa adorar em mim; e torna-me puro como a lua, para que eu te possa rezar em mim; e torna-me claro como o dia para que eu te possa ver sempre em mim e rezar-te e adorar-te.
Senhor, protege-me e ampara-me. 
Dá-me que eu me sinta teu.
Senhor, livra-me de mim.



Fernando Pessoa em "O Eu Profundo".
1912(?)

terça-feira, outubro 23, 2018

Não vê que isto aqui é como filho nascendo? Dói. Dor é vida exacerbada. O processo dói. Vir-a-ser é uma lenta e lenta dor boa.



____ Clarice Lispector, em "Água viva".


quarta-feira, outubro 10, 2018



"Mas há a espera. A espera é sentir-me voraz em relação ao futuro. Um dia disseste que me amavas. Finjo acreditar e vivo, de ontem pra hoje, em amor alegre. Mas lembrar-se com saudade é como se despedir de novo."

_______Clarice Lispector, em "Água viva".

Clarice, Água Viva

"Mas se eu esperar compreender para aceitar as coisas - nunca o ato de entrega se fará. Tenho que dar o mergulho de uma só vez, mergulho que abrange a compreensão e sobretudo a incompreensão. E quem sou eu para ousar pensar? Devo é entregar-me. Como se faz? Sei porém que só andando é que se aprende a andar e - milagre - se anda. 
Eu, que fabrico o futuro como uma aranha diligente. E o melhor de mim é quando nada sei e fabrico não sei o quê."
- Clarice Lispector, em "Água viva".

terça-feira, outubro 09, 2018

E preciso comprar arroz e flores.
Arroz para viver
E flores para ter pelo que viver.

____ Confuncio

quarta-feira, outubro 03, 2018

terça-feira, outubro 02, 2018

A morte como descanso 🌹🌹

Desde sempre estive caminhando em direção a morte.
No mais absoluto silêncio, meus passos me conduzem a caminho do suspiro último,
dentro da escuridão,
no cinza da mais profunda tristeza; melancolia sem medida, mas com precedentes.

O que mais amei na vida foi o ser humano. Esses, seriam meu porto e ponto de partida.
Certa vez, e por mais um milhão de vezes, a própria vida em seus percalços, discordaria de mim.
Como num filme de terror, meus olhos começaram a vê-los na pele das mais letais serpentes.
Suas formas tornando-se cilíndricas. Olhos inexpressivos, seguidos do esguicho letal do veneno que cega e mata. Recriei-me na urgência. Fortaleci minha alma. Assim, os exclui na minha inabalável FÉ. Sem volta, fui deixando-os do lado de fora da minha vida. 

Décadas se passaram. A poesia, ahhhh  a poesia! É o meu equilíbrio. É meu terceiro olho. É minha alma. É Deus em mim.

O amor, esse sentimento profundo. Me arranca desse chão imundo, donde no mais absoluto silêncio, sigo em direção a morte, desde sempre.
Vera Lyn Poeta

segunda-feira, setembro 24, 2018

Minha alma está ferida

Quando crianças ocupamos o barco dos sonhos, seguindo ao céu infinito na certeza de tocarmos sua lua, suas estrelas navegantes de nuvens. Os anjos? Como sabe-los senão te-los tão perto, ah!
Entre o nascimento, vida e morte, existe o tédio. O vago. Os percalços. As ilusões. Os enganos. A violência. A rejeição. A humilhação da desigualdade. As mentiras em desamor. Existe o horror.

O que há de belo se perde em meio a carnificina desumana.

Um dia já bem cansados, apeamos do barco dos sonhos, e aportamos o barco da profunda tristeza. Retornamos ao oceano dos sonhos, agora, calejados pelas amarguras entristecidos e assustados. Medrados de pavor ao ser humano. Estamos perplexos e insanos de tanto desamor vividos. 
"Em frente a todo vapor!" - Gritamos ao timoneiro invisível, 
rumando aos céus infinito novamente. 
E desta vez, apostando na ideia de que a morte venha de súbito, apagando essa vida de repente.
Minha alma está ferida.

_____ Vera Lyn Poeta

Poeminha

Nos braços da poesia minha vida se inspira.
Nos braços da solidão me vejo acompanhada, a dois, eu diria.
Nos ternos braços da alma (quanta doçura tem a alma!), minha vida acalma.
Nos temerosos braços da melancolia, eu sou poesia.
Vera Lyn Poeta

sexta-feira, setembro 21, 2018

Presença - Mário Quintana

 
É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.

______ Mario Quintana.

quinta-feira, setembro 20, 2018

  
O quarto iluminado pelo clarão da lua. Leve brisa suavizando o calor que me ardia. Seus olhos fechando e sua boca colando na minha. Tudo era instante. Sumimos para dentro um do outro. Perdi a força enquanto você, sedento, me engolia. Chorei de tanto amor e prazer; como uiva a loba se não há lua. 💓🌜🌛
____________ Vera Lyn Poeta

domingo, setembro 16, 2018

Bob Dylan - Jokerman 😢😢❤️❤️


Você não tem que ser bom


Você não tem que andar ajoelhado por mil milhas 
pelo deserto, arrependido. 
Você só tem que deixar o suave animal do seu corpo 
amar o que ele ama. 


Fale-me sobre desespero - o seu - e eu lhe falarei do meu. 

Mas enquanto isso o mundo segue em frente. 
Enquanto o sol e as suaves pétalas da chuva se movem 
através das paisagens 
sobre as pradarias e árvores profundas, montanhas, e rios 


Enquanto o ganso selvagem no alto limpo ar azul 
Está indo em direção a seu lar, de novo 


Onde quer que você esteja, não importa quão solitário, 
O mundo se oferece a sua imaginação
chamando por você como o ganso selvagem, estridente e excitante 
de novo e de novo - 
anunciando seu lugar na família das coisas.


"O ganso selvagem"  - Mary Oliver
Vera Lyn Poeta

sexta-feira, setembro 14, 2018

Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar
[ extático da aurora.


__ Vinicius de Moraes__

quinta-feira, setembro 13, 2018

Maná - No cais de San Blas💔💔

Ela despediu-se do seu amor
Ele partiu em um barco no cais de San Blas
Ele jurou que voltaria
E encharcada em choro ela jurou que esperaria
Milhares de luas passaram
E sempre ela estava no cais esperando
Muitas tardes se enrolaram
Se enrolaram no seu cabelo e nos seus lábios
Usava o mesmo vestido
E para que se ele voltasse, não se enganasse
Os caranguejos a mordiam
Suas roupas, sua tristeza e sua ilusão
E o tempo se passou
E seus olhos se encheram de amanheceres
E pelo mar se apaixonou
E seu corpo se enraizou
No cais
Sozinha, sozinha no esquecimento
Sozinha, sozinha com seu espírito
Sozinha, sozinha com seu amor no mar
Sozinha no cais de San Blas
Seu cabelo se branqueou
Mas nenhum barco devolvia o seu amor
E no povoado lhe chamavam
Lhe chamavam a louca do cais de San Blas
E uma tarde de abril
Tentaram levá-la ao sanatório
Ninguém conseguiu arrancá-la
E do mar nunca, jamais a separaram
Sozinha, sozinha no esquecimento
Sozinha, sozinha com seu espírito
Sozinha, sozinha com seu amor no mar
Sozinha no cais de San Blas
Sozinha, sozinha no esquecimento
Sozinha, sozinha com seu espírito
Sozinha, sozinha com seu amor o mar
Sozinha, sozinha no esquecimento
Sozinha, sozinha com seu espírito
Sozinha, sozinha com seu amor no mar
Sozinha no cais de San Blas
Ficou, ficou
Sozinha, sozinha
Ficou, ficou
Com o sol e com o mar
Ficou nesse lugar
Ficou até o fim
Ficou nesse lugar
Ficou, no cais de San Blas
Sozinha, sozinha, ficou

Afinal 💀💨💨


quinta-feira, setembro 06, 2018

Jamais me verás de onde vejo você

Jamais me verás de onde vejo você.  Inversamente, o que enxergo é o que que precisava ver. É tudo aquilo que escondera de mim, naquela dramática representação de pessoa frágil e solitária. Eu estava de saída quando me rendi ao seu olhar traiçoeiro. Vi piedade e abandono. Caráter abalado, o seu.

Falou no compasso e docemente aos meus ouvidos. Em sussurros arrastou-me para você. Fazia festa quando me via. Me prendia a exaustão. Todos os meus dias tornaram-se seus, unicamente. E eu te ouvia incansável. Assim, roubou meus dias e logo, a minha vida passou a ser sua. Justo quando eu estava de saída para descansar a alma, longe da multidão. Tantas vezes me fui. Todas as vezes me chamastes de volta.

Seus lábios nos meus, vermelhos e quentes. Beijos longos e estremeceres. Assim, vi minha realidade mórbida e adoecida renascer dentro da sua vida, de oceano e liberdade (tudo falso). Me traístes em seguida. Riu da minha angústia. Usou do sarcasmo com a minha dor. Riu ao me contar que seu corpo fora de outra pessoa. "Aconteceu" - me disse, sem pudor nenhum. 
Certa vez me dissera que tinha um lado negro e demoníaco, mas que jamais usaria contra mim: Creio em Deus Pai Todo Poderoso! Roubastes de mim, toda confiança que trabalhei mais de uma década para reconstruir.
Pensei em morrer e terminar com tudo isso. Mas o sangramento segue estancando. Feridas cicatrizando. Restando apenas o horror incontrolável. 
Eu te amei. Adormecia sorrindo depois da nossa alegria. Eu te amei ao amor que tu me dizias ter. Mentira outra vez.

Jamais me verás de onde te vejo tão desnudo, claro e evidente mau caráter. Jamais saberás de onde enxerguei profundamente quem tu és, o que é você. Minha alma saiu da tristeza e não chora por você. Ela reza.
____ Vera Lyn Poeta

George Michael - Careless Whisper 🌹


Aretha Franklin - I never loved


segunda-feira, setembro 03, 2018

Vida de depressivo

Há três longos e infindos dias, estou voando sem sair do lugar. Coração apertado. Fala embargada. Respiração ofegante. Olhos de infinito, tão perdidos no nada.
Estou em surto. Uma parte de mim está vivendo o dilúvio. A outra parte está sorrindo para o vazio do mundo, que são as pessoas. 
Estou desesperada. Suadouro noturno. Acordando em sobressaltos e vivendo claramente pesadelos evidentes. Todos em cenas de horror. Socorro... Socorro. Não! Nada pode me proteger de mim mesma a não ser eu. 
Todo esse circuito em curto me causa náuseas; nojo mesmo. 
Deus, essa noite eu vi três cachorros sangrando bem na minha frente. Tentei acordar, mas tudo que fiz foi gritar,  gritar e chorar pra que alguém viesse ao meu encontro, que me ajudar com os cães sangrentos. 
Tive um dia ventoso, com o coração entre negras nuvens. Caminhei por aí a falar com amigos, e o vazio continua sendo só meu. A vida inteira foi assim. A piedade dessa tragédia humana, é que passa e ameniza minha vida aos dias.
Não há ninguém, de verdade, para ser par, de alma e coração.
As pessoas calaram-se, umas as outras, e não se amam mais.

A humanidade evaporou e estamos sobre os destroços do que foi amor um dia.

Vera Lyn Poeta 

segunda-feira, agosto 27, 2018

Tudo se me evapora. A minha vida inteira, as minhas recordações, a minha imaginação e o que contém, a minha personalidade, tudo se me evapora. Continuamente sinto que fui outro, que senti outro, que pensei outro. Aquilo a que assisto é um espectáculo com outro cenário. E aquilo a que assisto sou eu.
Fernando Pessoa

Precisamos renovar a vida encantando o espírito e a alma. 
A natureza se refaz a cada tempo, tenra e cheia de brilho.
Aos nossos olhos seduz, por sua eterna beleza. 
Não é a cronologia do tempo. 
É a gratidão por estar vivo, e vivendo em muita luz, a vida.

quarta-feira, agosto 22, 2018

Janis Joplin - Summertime ❤️

Era "Summertime", a voz da Pérola Janis ouvida pela primeira vez, e para sempre eternamente. 


terça-feira, agosto 21, 2018

Dom de amar ❤️💖💞💘

Eu sempre senti e vivi o amor como pele sobre pele. Cabeça sobre o peito, ou no ombro, de forma que se encaixe.
Estendo-me a meio corpo, sobre o meu amor sempre.
Sempre achei o amor um sentimento de contatos sucessivos, e com muitas falas pelos dias em rotina. Preciso do colo. Das mãos nos meus cabelos. Do olhar sorrindo para mim. Da boca a escrever palavras de amor sobre minha alma.
Minha forma predileta de amar e viver o amor, é na base da grande e intocável amizade. Amizade indestrutível e de imensurável fidelidade. Eu sou esse amor que escrevo desde a infância, descrevo, recito, espalho para o mundo.
Não é amor careta e muito menos amor egoista. É um amor entre anjos ❤️❤️🌹🌹

Vera Lyn , e o cão Zé 

quarta-feira, agosto 15, 2018



Se eu fosse música. 

seria tango
compositor,
seria chico,
sentimento,
seria amor
Se fosse cor,
seria preta,
fosse bicho,
borboleta,
seu eu fosse,
não voltava,
virava doce,
te lambuzava
Se eu fosse boca,
na tua
seria corpo,
no teu
seria rosto sem véu
fosse o que fosse,
serias meu.
(Fosse o que fosse)
___ Lina Marano___

segunda-feira, agosto 13, 2018

A valsa da poeta


Meu coração salta infinito acima deixando uma estrada de corações partidos. Está sangrando. Narra toda dor, através minhas faces. Pincela sobre nuvens minhas torrenciais lágrimas. Rosto cansado e solitário de olhos fixos. 
Eu quero ir. Anjos me aguardam. Espalham asas pelo céu. Para cada dor, um último vôo. Até que eu desapareça e reste apenas formas daquilo que fui. Apenas existi na poesia. Eu e meu coração  desconhecemos por completo a razão. 

Vejo Deus, o onipotente, caminhando compassado e sereno. 
Homens pássaros cortam em ondas, os céus. 
Anjos adornam, em cura, a estrada de corações feridos. É a valsa da poeta. Dança, poeta, dança.
Feche os olhos, cerre os punhos, e siga livre pelo caminho que você jamais teria que ter desviado,
Valsa suave, doce, e eu não ouço mais a terra.

 Vera Lyn Poeta

quarta-feira, agosto 08, 2018

Nova canção


Foi assim que voltei a viver minha vida. Em silêncio. Na quebrada da solidão. Longe daqueles tantos olhos lacrimosos, em letal veneno que rouba sonhos, provocando à depressão.

Assim me recrio. Sigo em frente tomada pelo fascínio íntimo. Emoção legítima e intransferível. Eis-me.

 __ Vera Lyn Poeta 




quinta-feira, julho 26, 2018

O Tempo




A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal…
Quando se vê, já terminou o ano…
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado…
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas…
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo…
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.
____ Mario Quintana

terça-feira, julho 24, 2018

Um pouco de vida


Há dias em que uma manhã de puro sol e silêncio, vale por toda angústia e dor, do dia que passou.
Por momentos me vem aquela alegria acelerada, fazendo-me sentir sem feridas e como se a vida fosse assim, minha primeira vez. Respiro profunda. Preciso atracar meu corpo as pleuras de meus frágeis pulmões. Quero ter a certeza de que minha respiração não é um sonho, e eu estou viva.
Desacelera a euforia. Comprimo as pálpebras, aspiro toda liberdade que aquece minha alma. Só então, escrevo esse poeminha. 


segunda-feira, julho 23, 2018

Gente humilde



Transformei minha vida num vilarejo.
Minha vida está do jeito que sempre sonhei.
Rodeada de gente simples. Lugar onde a maioria se conhece.
Tem cumprimentos, cafés e prosas que madrugadas adentro amanhecem.
Não me cabia mais aquelas gentes grandes em quantidade e poucas de coração e qualidades.
Aqui não tem luxo, não. Aqui tem paz, céu estrelado e pés no chão.
Gente humilde; humildade minha além vida.

Vera Lyn Poeta


sábado, julho 21, 2018


Não há nenhuma prisão em nenhum mundo na qual o amor não possa forçar a entrada.

__Oscar Wilde__


quinta-feira, julho 05, 2018

Anestesia emocional


_Ela dizia ser feita de flores, paz, músicas e amores. Largo sorriso estrondoso e fácil. 
Contava entre risos todas as desgraças vividas. Da sombra que lhe acompanhava, e do ranger de dentes da solidão. 

Uma vida cheia de silêncios e olhos fixos. Milhões de sonhos e nada decidido. 
Nessa vida nada lhe apetecia. Nada lhe convencia. Nada lhe punha em calmaria.
Mesmo assim, ela dizia ser feita de flores, paz, músicas e amores. Largo sorriso estrondoso e fácil. 
Ela está sempre, lá pela noitinha, contemplando o luar, e a conversar com as três Marias. 

__ Vera Lyn Poeta - em: "Anestesia emocional."

terça-feira, julho 03, 2018

Te Amo


Te amo de uma maneira inexplicável,
de uma forma inconfessável,
de um modo contraditório.
Te amo, com meus estados de ânimo que são muitos
e mudar de humor continuadamente
pelo que você já sabe
o tempo,
a vida,
a morte.
Te amo, com o mundo que não entendo
com as pessoas que não compreendem
com a ambivalência de minha alma
com a incoerência dos meus atos
com a fatalidade do destino
com a conspiração do desejo
com a ambigüidade dos fatos
ainda quando digo que não te amo, te amo
até quando te engano, não te engano
no fundo levo a cabo um plano
para amar-te melhor
Te amo , sem refletir, inconscientemente
irresponsavelmente, espontaneamente
involuntariamente, por instinto
por impulso, irracionalmente
de fato não tenho argumentos lógicos
nem sequer improvisados
para fundamentar este amor que sinto por ti
que surgiu misteriosamente do nada
que não resolveu magicamente nada
e que milagrosamente, pouco a pouco, com pouco e nada,
melhorou o pior de mim.
Te amo
Te amo com um corpo que não pensa
com um coração que não raciocina
com uma cabeça que não coordena.
Te amo incompreensivelmente
sem perguntar-me porque te amo
sem importar-me porque te amo
sem questionar-me porque te amo
Te amo
simplesmente porque te amo
eu mesmo não sei porque te amo…
_________Pablo Neruda

sexta-feira, junho 29, 2018

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio. 
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos 
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas. 
                   (Enlacemos as mãos.) 

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida 
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa, 
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado, 
                   Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos. 
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio. 
Mais vale saber passar silenciosamente 
                   E sem desassosegos grandes. 

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz, 
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos, 
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria, 
                   E sempre iria ter ao mar. 

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos, 
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias, 
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro 
                   Ouvindo correr o rio e vendo-o. 

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as 
No colo, e que o seu perfume suavize o momento — 
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada, 
                   Pagãos inocentes da decadência. 

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois 
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova, 
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos 
                   Nem fomos mais do que crianças. 

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio, 
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti. 
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim — à beira-rio, 
                   Pagã triste e com flores no regaço. 

________Ricardo Reis, in "Odes" 
__Heterónimo de Fernando Pessoa__

Segue o teu destino


Segue o teu destino, 
Rega as tuas plantas, 
Ama as tuas rosas. 
O resto é a sombra 
De árvores alheias. 

A realidade 
Sempre é mais ou menos 
Do que nos queremos. 
Só nós somos sempre 
Iguais a nós-proprios. 

Suave é viver só. 
Grande e nobre é sempre 
Viver simplesmente. 
Deixa a dor nas aras 
Como ex-voto aos deuses. 

Vê de longe a vida. 
Nunca a interrogues. 
Ela nada pode 
Dizer-te. A resposta 
Está além dos deuses. 

Mas serenamente 
Imita o Olimpo 
No teu coração. 
Os deuses são deuses 
Porque não se pensam. 

_______Ricardo Reis, in "Odes" 

heterónimo de Fernando Pessoa 

domingo, maio 20, 2018


“Te amo ainda que isso te fulmine ou que um soco na minha cara me faça menos osso e mais verdade.” 

______ Hilda Hilst

Toma-me

Toma-me. A tua boca de linho sobre a minha boca
Austera. Toma-me agora, antes.
Antes que a carnadura se desfaça em sangue, antes
Da morte, amor, da minha morte, toma-me
Crava a tua mão, respira meu sopro, deglute
Em cadência minha escura agonia.

Tempo do corpo este tempo, da fome
Do de dentro. Corpo se conhecendo, lento,
Um sol de diamante alimentando o ventre,
O leite da tua carne, a minha
Fugidia.
E sobre nós este tempo futuro urdindo
Urdindo a grande teia. Sobre nós a vida
A vida se derramando. Cíclica. Escorrendo.

Te descobres vivo sob um jogo novo.
Te ordenas. E eu deliquescida: amor, amor,
Antes do muro, antes da terra, devo
Devo gritar a minha palavra, uma encantada
Ilharga
Na cálida textura de um rochedo. Devo gritar
Digo para mim mesma. Mas ao teu lado me estendo
Imensa. De púrpura. De prata. De delicadeza.

__ Hilda Hilst

quinta-feira, maio 17, 2018

Gargalhada

Quando me disseste que não mais me amavas, 
e que ias partir, 
dura, precisa, bela e inabalável, 
com a impassibilidade de um executor, 
dilatou-se em mim o pavor das cavernas vazias... 
Mas olhei-te bem nos olhos, 
belos como o veludo das lagartas verdes, 
e porque já houvesse lágrimas nos meus olhos, 
tive pena de ti, de mim, de todos, 
e me ri 
da inutilidade das torturas predestinadas, 
guardadas para nós, desde a treva das épocas, 
quando a inexperiência dos Deuses
ainda não criara o mundo...

_____ João Guimarães Rosa 


segunda-feira, maio 14, 2018

Eu quero você

Eu quero você do meu lado. Será que ninguém entende? Tudo bem, tem até uns carinhas legais me procurando por aí, mas nenhum deles sequer tem a capacidade de se parecer um pouquinho com você. Nenhum deles lembra seu jeito doce de encarar a vida e de me acalmar. Porque nenhum deles me faz rir como você faz
 ❤️ Caio Fernando Abreu ❤️

domingo, maio 06, 2018

Minha mente conectada aos Anjos





Teremos pelo inconsciente, em alma, vagas lembranças desse tempo em que estamos vivendo, além vida. Assim como trazemos vagas lembranças do idos tempos que já vivemos um dia. 

__ Vera Lyn, 

em: "Minha mente conectada aos Anjos"

Uns Versos Quaisquer


Vive um momento com saudade dele
Já ao vivê-lo . . .
Barcas vazias, sempre nos impele
Como a um solto cabelo
Um vento para longe, e não sabemos,
Ao viver, que sentimos ou queremos . . .

Demo-nos pois a consciência disto
Como de um lago
Posto em paisagens de torpor mortiço
Sob um céu ermo e vago,
E que nossa consciência de nós seja
Uma cousa que nada já deseja . . .

Assim idênticos à hora toda
Em seu pleno sabor,
Nossa vida será nossa anteboda:
Não nós, mas uma cor,
Um perfume, um meneio de arvoredo,
E a morte não virá nem tarde ou cedo . . .

Porque o que importa é que já nada importe . . .
Nada nos vale
Que se debruce sobre nós a Sorte,
Ou, tênue e longe, cale
Seus gestos . . .
Tudo é o mesmo . . .
Eis o momento . . .
Sejamo-lo . . .
Pra quê o pensamento?
_____Fernando Pessoa ❤️❤️❤️

sexta-feira, abril 27, 2018

Já não se encantarão os meus olhos nos teus olhos, 
já não se adoçará junto a ti a minha dor.

Mas para onde vá levarei o teu olhar 
e para onde caminhes levarás a minha dor.

Fui teu, foste minha. O que mais? Juntos fizemos 
uma curva na rota por onde o amor passou.

Fui teu, foste minha. Tu serás daquele que te ame, 
daquele que corte na tua chácara o que semeei eu.

Vou-me embora. Estou triste: mas sempre estou triste. 
Venho dos teus braços. Não sei para onde vou.

...Do teu coração me diz adeus uma criança. 
E eu lhe digo adeus.

__ Pablo Neruda

quinta-feira, abril 26, 2018

A Dança

Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
amo-te como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma. 

Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta a luz daquelas flores, 
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascendeu da terra.

Te amo sem saber como, nem quando, nem onde, 
te amo diretamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira, 

senão assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.


__ Pablo Neruda
Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.

Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperança a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!

Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solene pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.


 ____ Fernando Pessoa